Comandante Oliveira e Carmo

 (1936-1961)

Patrono dos Cursos de 1962 

 

Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo nasceu em Santo Estêvão, Concelho de Alenquer, no dia 25 de Setembro de 1936.

Tendo concluído o curso no Liceu Pedro Nunes no fim de Julho de 1954, assentou praça como cadete da Escola do Exército em 20 de Outubro do mesmo ano, para efectuar os estudos preparatórios do ingresso na Escola Naval. Foi aumentado ao efectivo do Corpo de Alunos da Armada a 1 de Outubro do ano seguinte.

Promovido a guarda-marinha em 1 de Maio de 1958, embarcou em vários navios, tendo ainda passado pela Superintendência dos Serviços da Armada e pelo Comando da Flotilha de Patrulhas. Seria promovido a Segundo-Tenente no último dia daquele ano, data em que foi abatido ao Corpo de Alunos da Escola Naval, com a média final ponderada de 14,24 valores.

            Serviu a bordo dos patrulhas "Boavista" e "Porto Santo" e na fragata "Pêro Escobar", onde o seu elevado brio, o seu inquestionável sentido das responsabilidades e do dever e o seu exemplar aprumo militar foram alvo dos maiores elogios.

Nomeado comandante da lancha de fiscalização "Vega", a prestar serviço em Diu, para ali partiu no Verão de 1961. Naquele território, à semelhança dos restantes que faziam parte da Índia Portuguesa, pairava, desde há muito, a ameaça de anexação pela poderosa União Indiana.

A temida invasão acabaria por se concretizar, de forma esmagadora, na madrugada de 18 de Dezembro de 1961. O combate extremamente desigual que se desenrolou constituiu o ponto culminante da curta carreira de Oliveira e Carmo, que no seu abnegado heroísmo viria a escrever uma das mais gloriosas páginas da nossa História Naval.

O Combate

            Tendo saído de Diu em 17 de Dezembro, a "Vega" fundeou frente a Nagoá às 2200 do mesmo dia.

            Na madrugada do dia 18, por volta das 0140, foram ouvidos tiros em terra pela praça de serviço. Alertado por esta, mandou o Comandante ocupar postos de combate e suspender.

            Dirigiu-se, então, a lancha para junto de um contacto radar não identificado que navegava a cerca de 12 milhas da costa. Por volta das 0400, o navio, visualmente identificado como um cruzador, lançou granadas iluminantes e abriu fogo de metralhadora pesada sobre a "Vega", que retirou para Diu e fundeou.

            Ás 0615 suspendeu e aproximou-se novamente do cruzador, onde foi vista, içada no mastro, a bandeira da União Indiana. A lancha regressou ao fundeadouro e Oliveira e Carmo fardou-se de branco para, segundo afirmou, morrer com mais honra.

            Às 0700 foram avistados aviões a jacto efectuando bombardeamento sobre terra. O Comandante reuniu a guarnição e leu-lhes as ordens do Estado-Maior da Armada, segundo as quais a lancha deveria combater até ao último cartucho.

            Cerca das 0730 aproximaram-se dois aviões para bombardear a Fortaleza e Oliveira e Carmo mandou abrir fogo sobre eles com a peça de 20 mm (um dos aparelhos acabaria por ser atingido e obrigado a aterrar). Estes, naturalmente, ripostaram. Agilmente manobrada pelo seu comandante, a "Vega" esquivou-se às primeiras rajadas. No entanto, um novo ataque, desta vez em fogo cruzado, matou o marinheiro artilheiro António Ferreira e cortou pelas coxas as pernas de Oliveira e Carmo que, ainda com vida, retirou do bolso e beijou as fotografias da mulher e do filho pequeno. Deflagrara, entretanto, um violento incêndio, que rapidamente se propagou à casa da máquina e à ponte. A peça foi abandonada, em virtude do seu reduto se ter tornado intransitável devido aos buracos causados pelos projécteis inimigos e pelo incêndio, que atingia, já, o convés.

            A guarnição tentou, então, arriar o bote para evacuar o Comandante, mas um novo ataque aéreo feriu mortalmente Oliveira e Carmo, tendo também sido atingidos três marinheiros (um deles, marinheiro artilheiro Fernandes Jardino, com a perna esquerda cortada pela canela, viria a falecer no trânsito para terra).

            Com o bote inutilizado e a lancha completamente tomada pelas chamas, viram-se os sobreviventes obrigados a nadar em direcção a terra, agarrando-se os feridos a uma balsa.

            Sacudida pelas explosões das suas próprias munições, a "Vega" acabaria por se afundar, arrastando consigo o corpo do seu heróico Comandante.

            Oliveira Carmo foi, a título póstumo, condecorado com a Medalha de Valor Militar com Palma, agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar da Torre e Espada e promovido por distinção ao posto de Capitão-Tenente.

 

Jorge Moreira Silva

 

Bibliografia

LOPES, A. Alves, "Perfil do Último Herói de Dio – 2º Ten. Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo", Anais do Clube Militar Naval, tomo XCIV, nºs 4 a 6, Lisboa, Abril-Junho 1962, pp. 251-254.

MORAIS, Carlos Alexandre de, A Queda da Índia Portuguesa, 2ª edição, Lisboa, Editorial Estampa, 1995.

VALENTIM, Carlos Manuel, "A Presença Portuguesa na Índia (1498-1961). O Cabo Aníbal Jardino, a lancha "Vega" e os últimos combates navais na Índia", Anais do Clube Militar Naval, Vol. CXXXV, Lisboa, Abril-Junho 2005, pp. 369-389.